A tua equipa não precisa de mais liberdade. Precisa de liderança
E por favor, pára de chamar delegar ao que é apenas abdicar.
Durante muito tempo, venderam-nos a ideia de que a eficiência era a solução para todos os problemas de uma empresa.
Automatiza. Otimiza. Reduz custos. Elimina desperdícios.
Tudo isso parece incrível – até perceberes que estás a optimizar processos que não levam a lado nenhum.
Eficiência sem intenção é ruído disfarçado de produtividade.
Mas há outro problema que paira sobre muitas empreendedoras: a ideia de que, para escalar, têm de “largar o controlo”.
Contratam pessoas, montam equipas, distribuem tarefas — e desaparecem. Afinal, “liderar” não é dar autonomia?
Nem sempre.
Delegar não é deslargar.
Um dos maiores erros que vejo — e que já cometi — é pensar que crescer significa sair de cena. Quando, na verdade, o que as equipas precisam é dos fundadores presentes, com visão, intenção e coragem para liderar nos detalhes.
Há uns anos, entrei numa mentoria onde insistiam que, para escalar, era preciso delegar. E eu confiei e acreditei. Fazia-me todo o sentido. Estudei, preparei-me, e comecei a sair da operação para me focar na gestão. Deleguei quase tudo — inclusive a gestão direta de clientes.
Confiei essa responsabilidade a uma profissional com experiência de décadas e com um currículo impressionante. Mas havia algo que ninguém me tinha ensinado: não basta contratar alguém “muito bom” no papel, se essa pessoa não entende a cultura da empresa nem o padrão que queremos manter.
Durante um tempo, tudo parecia estar a funcionar. Eu estava livre, focada na estratégia, nas vendas, no crescimento. Mas de repente, começaram a chegar telefonemas de clientes a pedir que eu voltasse a ser o ponto de contacto. Não se reviam na nova abordagem, sentiam falta da relação, do cuidado, da excelência.
Comecei também a perder colaboradores.
Essa fase foi dura. Senti-me perdida, desorientada, e a duvidar das decisões que tinha tomado. Mas foi também o meu ponto de viragem.
Foi quando percebi que liderança não é apenas sair de cena. É saber quando estar e como estar. É definir os padrões. É garantir que o ADN da empresa se mantém, mesmo que não sejamos nós a executar tudo.
Foi por isso que o conceito de Founder Mode, partilhado por Brian Chesky (CEO da Airbnb), me tocou tanto.
Durante anos, ele seguiu o conselho habitual: contratar bem e dar liberdade. O resultado? Desalinhamento, perda de qualidade, uma empresa que crescia, mas perdia alma. Foi quando decidiu “voltar aos detalhes” — perceber o que se estava a passar, perguntar, ajustar, participar — que a Airbnb voltou a ter impacto e foco.
Founder Mode não é microgestão. É liderança com presença, intenção e responsabilidade.
Vamos fazer esta distinção clara:
Microgestão é pedir para ver todos os e-mails enviados, aprovar cada story antes de ser publicada, estar constantemente a interromper com "só mais uma coisa...". É minar a autonomia com controlo excessivo.
Liderança com intenção é criar alinhamento claro sobre os objetivos, acompanhar os indicadores-chave, dar feedback estruturado e estar disponível nas decisões críticas. É aparecer quando é importante — e não desaparecer quando é conveniente.
É saber o que está a acontecer, fazer as perguntas certas, estar presente sem sufocar, criar uma cultura de excelência — não de dependência.
Brian partilha que muitos fundadores se sentem gaslighted: por um lado, os conselhos externos a dizer que têm de se afastar; por outro, equipas que, na ausência de direção, simplesmente não entregam. Mas abdicar não é opção. Porque, como ele diz, há coisas que só os fundadores podem fazer — e que fazem toda a diferença.
O Vaticano, por exemplo, tem um protocolo que garante estabilidade mesmo nos momentos mais críticos, como quando um Papa morre. Durante dias, não há líder, mas há estrutura. Tudo continua a funcionar. Porque a liderança verdadeira não depende de estar presente em tudo — depende de ter construído as fundações certas.
E tu? Se fosses atropelada amanhã, o teu negócio continuava? Ou tudo colapsava contigo?
Exercício prático: Diagnóstico de Founder Mode
Esta semana, responde com honestidade:
Quais são as áreas onde estás demasiado ausente — mas que exigem o teu olhar estratégico?
Quando foi a última vez que reviste de perto o trabalho da tua equipa?
Há decisões importantes que estás a evitar tomar?
A tua equipa sabe claramente o que é prioritário?
O que estás a delegar por estratégia — e o que estás a largar por cansaço ou medo?
Escolhe uma destas perguntas e age sobre ela esta semana. Marca uma reunião, faz um check-in, dá feedback. Reaparece.
Porque escalar não é desaparecer. É liderar com intenção.
Até já,
Helena